O
dia 17/01/1942 teve uma grande importância na vida de Zé Igapó, pois
foi a data em que conheceu sua “querida” Joaquina Cacheado de Souza,
Dona Quininha. Nove meses depois, Zé Igapó e Dona Quininha oficializaram
seu noivado e se preparavam para casar quando uma noticia inesperada
poderia ter dado um destino diferente aos dois: Zé Igapó foi convocado
pelo governo brasileiro a embarcar para a guerra, no Navio Santarém,
ancorado no Rio de Janeiro-RJ.
Sua
noiva e familiares ficaram “num mar de lágrimas” e preocupação com a
possível ida de Zé Igapó para a Europa. Na época, não existia nem mesmo
um telefone para que Zé Igapó avisasse aos familiares que havia sido
dispensado da guerra, embora fosse continuar servindo em solo brasileiro
em regime de prontidão. Em 10/11/1945, Zé Igapó se licenciou do
exército e voltou a sua terra para se dedicar a realizar o seu casamento
com Dona Quininha. A união conjugal dos dois ocorreu a 06/01/1946 e
dela nasceram dez filhos.
Após
o seu casamento, Zé Igapó veio morar em Natal, no bairro de Igapó. Daí
surgiu o pseudônimo que o acompanhou por toda sua vida. Daí por diante,
praticamente todos os fins-de-semana, Zé Igapó vinha a Poço Branco e,
nas férias, passava mais de trinta dias por lá. A vocação para servir
começou quando alguns jovens passaram a frequentar sua casa, em Natal,
para poder estudar. Daí, Zé Igapó começou a abrir as portas de sua casa
também para pessoas mais humildes que precisavam fazer tratamento médico
na capital. Esses primeiros passos certamente colocaram Zé Igapó na
vida pública de Poço Branco.
Enquanto
Poço Branco pertencia a Taipu, Zé Igapó foi eleito por três vezes como
vereador do grande município sempre com grandes votações. Mesmo
enfrentando muita polêmica e discriminações dentro do próprio povoado,
Zé Igapó conseguiu desmembrar, parte do que é hoje Poço Branco, para
fazer parte de Bento Fernandes, em um acordo com o então prefeito Lídio
Fernandes. Mas a luta para tornar Poço Branco uma cidade emancipada
continuou por mais alguns anos. Naquela época, Zé Igapó conseguiu o
inédito direito de implantar um abono família para aquelas com mais de
quatro membros, em convênio com a LBA. Enfrentar tantos abismos e
perseguições políticas expôs Zé Igapó e sua família a situações de
dificuldades financeiras nos anos em que enfrentava, praticamente
sozinho, os políticos fortes do estado e os adversários de sua região -
situações particulares que, normalmente, a história não conta...
Até
chegar o “Dia D” (26/07/1963), a luta de Zé Igapó por Poço Branco
continuou com seu trabalho de registrar pessoas e realizar diversos
casamentos para que fosse possível se criar a comarca de Poço Branco.
Outro plano de Zé Igapó foi a criação de diversas escolas isoladas e a
qualificação de pessoas da comunidade como professores. As mais
importantes foram as escolas de Poço Branco, Lagoa do Serrote e Lagoa do
Cravo. A qualificação dos professores foi feita em Natal, em dois
importantes centros formadores pedagógicos: Externato Saturnino e Escola
Ary Parreira (da Marinha do Brasil). Zé Igapó fazia questão de ajudar
financeiramente a muito deles.
Entre
os anos de 61 e 64, Zé Igapó travou outra luta para desmembrar parte de
Poço Branco de Bento Fernandes e a outra parte de Taipu. Foi outra
tarefa difícil e cheia de opositores, pois as populações dos dois
municípios (e seus políticos) eram contrárias as idéias
emancipacionistas de Zé igapó. Com a criação de várias escolas e do
Cartório Único faltava a Zé Igapó mais prestígio junto ao Tribunal de
Justiça do RN e ao Governo do Estado. O governador à época era o Sr.
Aluízio Alves que apoiava o prefeito Vicente Cruz, de Taipu. Ambos eram
contrários a emancipação de Poço Branco que somente ocorreu porque foi
assinada pelo governador em exercício, Roberto Pereira Varela, na
ausência do governador, Aluizio Alves, em viagem ao exterior, e do
vice-governador, Monsenhor Walfredo Gurgel.
Mesmo
quando Poço Branco foi emancipado, em 1963, alguns setores da política
da região atribuíram o feito aos prefeitos de Taipu e de Bento
Fernandes, afirmando que ambos teriam concordado com a emancipação de
Poço Branco (naquele ano, outros 37 municípios do RN foram criados). Em
1965, o Dr. Valban de Farias foi eleito prefeito da cidade e o candidato
de Zé Igapó (Ivan Cardoso) perdeu a eleição porque o Dr. Valban foi
apoiado por Taipu, Bento Fernandes e pelo então governador do estado,
Monsenhor Walfredo Gurgel. Quatro anos depois (1969), Zé Igapó foi
eleito vice-prefeito de Poço Branco, já emancipado, juntamente com ao
Sr. Ivan Cardoso para um mandato de 4 anos.
Em
1972, Zé Igapó perdeu as eleições para Joãozinho Cruz basicamente pelos
mesmos motivos de anos anteriores: dissidências e desentendimentos
políticos locais. Em 1976, ele se elegeu prefeito de Poço Branco para um
mandato de seis anos. Neste período, conseguiu importantes conquistas
para a cidade. Trouxe uma escola de 2º grau (José Francisco), a TELERN,
CAERN, COSERN, CORREIOS e o Projeto Casulo (um pioneiro projeto de
educação infantil). Construiu a Escola Maria de Lourdes Costa e um Posto
de Saúde, em Contador, e as Escolas Isoladas dos Baixos e Samambaia. Zé
Igapó reformou e ampliou o cemitério de Contador, reformou e
reconstruiu casas residenciais, pertencentes à prefeitura, para reativar
ou implantar escolas municipais. Ele também trouxe os primeiros médicos
para residirem em Poço Branco, pois, antes, todos moravam fora da
cidade.
Sua
luta por Poço Branco trouxe empregos públicos para dezenas de
poçobranquenses - até hoje, imagino, gratos por seus serviços. Sua
residência na capital do estado era frequentada por muitos conterrâneos
que não tinham como fazer um tratamento de saúde digno na sua cidade ou
região. Sabe-se que as condições de transporte e das estradas eram
precárias e muito diferentes das atuais. Por isso, era comum alguns
passarem várias semanas em seu domicílio.
Com
o fim de seu mandato, em 1982, e com seu deficitário estado de saúde,
Zé Igapó voltou a morar na capital do estado, mas jamais deixou de
frequentar a “sua querida Poço Branco”. Em 21/09/1983 ele viajou a
capital paulista para realizar exames e se submeter a uma cirurgia
cardíaca, muito complicada para as condições médicas da época. Em um dos
poucos momentos de sua vida Zé Igapó não teve forças para lutar e veio a
falecer naquela data. A seu pedido, foi sepultado na cidade que adotou
como sua em 23/09/1983.
FONTE BLOG DE POÇO BRANCO